Com mais de oito milhões
Quadrados nesse Brasil
Uma Nação tão gentil
Mas com muitas distorções
As crianças nos lixões
Ingerindo carne crua
E o cenário continua
Para todo mundo ver
Eu não consigo entender
Tanto morador de rua.
Eu acho que a explicação
Só pode estar na ganância
Porque tanta discrepância
Ofende a justa razão
Eu pergunto meu patrão
Por que tanta terra é sua
Ver minha família nua
Só me faz enfurecer
Eu não consigo entender
Tanto morador de rua.
Pense só nesse cenário
Uma divisão mais justa
Eu bem sei que isso lhe assusta
Mas não seja um mercenário
Ou vil latifundiário
Que a dor do irmão acentua
Sua gula diminua
Pra que todos possam ter
Eu não consigo entender
Tanto morador de rua.
Falam de Deus e família
Mas agem com crueldade
Sem fé, amor, cristandade
Pra lucrar mantém vigília
Tinham suporte em Brasilia
Seu empregado extenua
Só sua prole gradua
Para o status se manter
Eu não consigo entender
Tanto morador de rua.
Meu rincão abandonei
Pela seca maltratado
Pelo patrão explorado
Que triste sina eu herdei
Eu na rua me abriguei
Como teto só a lua
O desprezo perpetua
Injustiça faz sofrer
Eu não consigo entender
Tanto morador de rua.
A noite vendo os filhinhos
Lá no papelão dormindo
Continuo me arguindo
Porque aceitei tanto espinhos
Se junto com meus vizinhos
Rejeitasse a falcatrua
E gritasse:-Senta a pua
Eu livre podia ser
Eu não consigo entender
Tanto morador de rua.