Tenho medo de calar
Não expressar sentimento
Tenho medo de fingir
Estar bem todo momento
Não desqualifico a dor
Acolho meu sofrimento
Não quero ser solução
Não tenho respostas prontas
Eu nunca desprezo às mágoas
Nem delas eu faço afrontas
Se a vida me der um nó
Sou eu que conheço as pontas
É muito bom o otimismo
Como também a esperança
Mas ser sempre positivo
Não apaga da lembrança
Experiências reais
Vividas desde criança
De gota em gota os eventos
O meu copo vai enchendo
Um punhado de alegria
Ou a saudade doendo
As grandes desilusões
Deixam coração ardendo
Vou sorvendo gole a gole
Pro copo não transbordar
É um cuidado diário
Que tento não desprezar
Porque quando eu acumulo
Vem uma dor de matar
Tal qual os pingos de chuva
Certas como um novo dia
Muitas como grãos de areia
E a imensidão da baía
Sentimentos represados
Afogam minha alegria
Eu aceito a impermanência
Convivo bem com a morte
Acredito no viver
Sem depender só dá sorte
Em cada dia eu navego
Mesmo sem ter vento ou norte
Mas diante das procelas
Bate medo e insegurança
Momentos de indecisão
Até perda de esperança
Aí juntos os pedaços
Meço e peso na balança
Sem querer ser super homem
Nem viver em negação
Eu vivo um dia por vez
Aprendendo co' a lição
Quando tem jeito eu resolvo
Se não tem, largo de mão.
Minha Vó sempre dizia:
Não tem mal que sempre dure
E nem bem que nunca acabe
Jeito simples não censure
Tenha uma filosofia
Viva intensamente e apure.
Salvador, 10/7/24,