Agora contando sílabas
Aprimoro minha estética
Minha escrita sem ser básica
Foge da moral ascética
Com oração enigmática
Construo sútil poética
Cada folha dessa árvore
Dispensa todo olho crítico
Eu vejo pelo meu ângulo
Com acento diacrítico
Minha visão é utópica
Não sou poeta analítico
Afastei-me desse cálice
Fugi desse zoológico
Eu não quero ser a vítima
De nenhum ego analógico
Meu verso é o meu refúgio
Ancestral e antropológico
Não preciso mais de títulos
Eu mudei minhas metáforas
Pena a pena tão dinâmica
Quando eu uso as diafóras
Quando faço boas métricas
Quando até escrevo anáforas
Academias tem círculos
Fardão e tons científicos
Para mim a feira é bárbara
Tem poetas magníficos
Mas tem também manga e abóbora
Com sabores caloríficos
Sendo poeta sou cômico
Se filosofo sou cínico
Não versejo com didática
E não tenho verso clínico
Quer ilusão, busque a fábula
Todo meu poema é vínico
Paradoxalmente bígamo
Mas singularmente gótico
Bem fiel ao meu zodíaco
Corro em trânsito caótico
Cem nortes, também sem bússolas
Angelicalmente erótico.
Salvador - BA.