Ó maldita hipocrisia!
Nunca vem me socorrer
Quando estou na encruzilhada
Sem saber o que dizer
Por que prefiro a verdade
Sabendo que vai doer
Não há nada mais difícil
Do que a tal dessa franqueza
Fácil a bajulação
Mas te digo com firmeza
Prefira sempre a verdade
Com toques de sutileza
Meu sepulcro é colorido
Por dentro e também por fora
Eu nunca dourei a pílula
E não vou fazê-lo agora
Tento nunca ser grosseiro
Mas pensando falo na hora
Sei que é de nossa cultura
Ter o dito por não dito
Mas lembre que se eu disser
Não quero causar atrito
Apenas lhe respeitar
Mentir é ato maldito
Dizer sou daquele tempo
Vai entregar minha idade
Mas contudo se mentir
Traduzo futilidade
Pois quem contra o tempo luta
Muito endeusa a falsidade
Gosto muito do olho no olho
De um forte aperto de mão
De sentir todo o calor
Dentro do abraço do irmão
De ver seu corpo falar
Esse nunca mente não
Verdade se liquefez
Bauman já nos alertou
E num bom filme de oitenta
Um homem suco virou
As relações tão fugazes
Tal qual água derramou
Nesse opaco e triste mundo
Tudo ficou virtual
Posso comprar um amigo
Seguidores, coisa e tal
Viver escravo da caixa
É relação surreal
Pra que ver a luz do sol
Posso vê-la pelo Cell
Pra que visitar amigos
Pelo zap e sem papel
Eu vou me comunicar
Nessa Torre de Babel
Onde a linguagem mudou
Lings, likes e curtidas
Isso é que vai definir
Os rumos de nossas vidas
Que sina tão deprimente
Tristemente resumidas.