Eu vi dois homens na rua
Um louco sentado ao chão
O sano em pé reclamando
O outro levantando a mão
Ao seu lado vários livros
O sano dava um sermão:
Nunca vou lhe dar esmolas
Eu lhe ofereço um emprego
Será o meu empregado
Terá vida de sossego
Porém o outro desdenhou
Isto é presente de grego
Não sou mais escravizado
E quando a mão levantei
Eu não pedia migalhas
Eu apenas protestei
Pois encobria o meu sol
Só por isso te acenei
Deixei de ser um escravo
Desse sistema perverso
Hoje posso não ter luxo
Minha riqueza é meu verso
Saindo da minha frente
Libera meu universo
Essa luz é a fortuna
Ela que eu preciso ter
A tua sombra atrapalha
O meu direito de ser
Um homem louco e liberto
Nunca vais compreender
Sigas vá com teu sermão
Um Cínico já me inspirou
Eu aprendi com Diógenes
Que do seu barril falou:
Simplicidade é princípio
Foi o que me iluminou
Vejo vagar pelas ruas
Muitos zumbis e fantoches
Alguns são bem miseráveis
Mesmo comendo brioches
Outros sequer tem o pão
São vítimas de deboches
Quem na verdade é o louco
Pare agora pra pensar
Eu posso não ter cartões
Sequer casa pra morar
Porém tenho a liberdade
Não preciso nem votar
Referendar o escolhido
De um sistema tão servil
Onde a tal democracia
É manipulada e hostil
Prefiro a simplicidade
De morar em um barril.