Era uma vez um velhinho
Muito desorientado
Que tinha uma antiga bússola
Também GPS quebrado
Pois ele nunca me achava
Minha esperança apagava
Eu já chorei um bocado
Mas por que tão "bom" velhinho
É assim tão seletivo
Pra poucos ele dá muito
Pra muitos nem lenitivo
Confesso que já cansei
Amargurado pensei
É um velhinho abusivo
Será que errei o endereço
Que coloquei na cartinha?
Por que não vem em favelas?
Pergunta de criancinha
Que tem pai desempregado
Mais irmão trancafiado
É triste sina essa minha!
Porém se houver outra vida
Um branco pretendo ser
Porque branco é diferente
Eles tudo podem ter
Mas pra preto negação
Difícil ter até pão
Complicado de entender
Natal pra mim é tristeza
Natal é desolação
Natal não é nascimento
Natal discriminação
Natal pra ricos luxúria
Natal pra pobre penúria
Natal sem sim, só um não.
Vejo temporal bondade
Disfarce de hipocrisia
Percebo que nada muda
Na rotina todo dia
A miséria estrutural
É triste carma abissal
Que mata minha alegria
A humanidade morreu?
Será que resta esperança?
Mudo com fé ou razão?
Mas em quem ter confiança?
No padres e nos pastores
Com seus surrados louvores?
Por que fome e comilança?
Por fim desculpas lhes peço
Por forçar a reflexão
Não queria incomodar
Mas só chamar atenção
Vamos todos festejar
Comer muito e celebrar
Só quem pode, né irmão!