Paulo, o famoso Palhaço Piolho, estava se maquiando com capricho. Hoje era estréia do Circo Pindorama, na pequena cidade de Pequenopolis.
Como sempre fazia, cobriu o rosto com uma base branca e cores vibrantes: Vermelho, azul, amarelo. Sempre se perguntou porquê, mesmo os palhaços negros, pintavam o rosto com uma base branca. Mas foi assim que aprendeu, com seu saudoso pai, o Palhaço Maloca.
Por fim, colocou o nariz vermelho, olhou para o espelho, para ver se estava tudo ok e, nesse momento, lembrou de Sofia, sua filha e antiga parceira de picadeiro, a alegre palhacinha Estrela.
Lembrou do dia que sua mulher, a trapezista Carmem, fugiu do Circo com o mágico Mister Cheng, um Cearense de Sobral, levando sua amada filhinha.
Foram tempos difíceis de muito sofrimento e tristeza. Sentimento proibido para um palhaço.
Paulo nunca superou. Piolho resignou-se, depois que, num sonho, Sofia lhe apareceu e contou seu segredo para sempre estar feliz na apresentação. Disse que uma fada lhe deu um nariz de palhaço, na cor cinza, que ela colocava no bolso e antes de entrar no picadeiro, o enterrava e só pegava de volta depois que terminava a apresentação.
Piolho pintou de cinza, um nariz vermelho e adotou o mesmo mágico ritual.
Paulo, já caracterizado de Piolho, abriu a gaveta e não conseguia encontrar o nariz cinza. Vasculhou todos os baús, procurou em todos lugares e nada. Desesperado, não sabia o que fazer.
O dono do circo anunciou no alto falante sua entrada, a banda tocou a música de abertura, o público eufórico gritava:
- Piolho, Piolho, Piolho...
Sem outra opção, foi correndo para o picadeiro, olhou para o público e antes de entrar, tropeçou na barreira de acesso, como sempre fazia. O público aplaudiu e riu muito.
De repente Piolho parou, no centro do picadeiro, só, sem seu amuleto e nem sua amada Estrela, com a luz dos holofotes iluminando o seu rosto, caiu de joelhos e chorou.
O Palhaço chorou! A platéia exclamou e continuou só rindo.