Não gosto de rótulos, ritos, rotinas ou rituais. Porém abro algumas exceções e nessas incluo a malhação matinal. Não, por favor, não falo de academias, cheias de mulheres com seus imperfeitos corpos perfeitos ou aqueles falsos Hércules forjados a base de anabolizantes. Refiro-me a malhar a MENTE, exercitar meus neurônios, lubrificar as idéias ou só pensar, sem a preocupação cartesiana de provar minha existência. Apenas pensar, no todo, no tudo ou até mesmo no nada, quando medito.
Estou poeta e nesse mister é fundamental a leitura, um mergulho profundo no universo de todas as correntes: clássicas, populares, modernas, abstratas, vanguardistas, surreais e ...
Desejo beber na fonte, para quem sabe um dia, quem sabe, possa, eu, um humilde poetinha, criar meu próprio estilo. Seria um sonho? Eu sonho só!
Malho fazendo poesia ou pensas que poetisar não queima calorias? Faço longas caminhadas nas ruas, feiras, antros, cabarés e até igrejas. Buscando inspiração. Ufa, ser poeta dá uma canseira. E se és, como eu, um poeta de bancada, o trabalho é ainda mais árduo.
Escrevo todos os dias, com menos ou mais inspiração. Inspirado, a coisa flui, como água destemida que salta da cachoeira, despreocupada com a altura e agudeza das rochas. Mas, quando a inspiração se faz teimosa, escrevo descomprometida prosa, sobre coisas que eu nem sei. Com o único propósito de escrever. As vezes guardo, na gaveta, na mente ou até no lixo. Sempre me arrependo dessa última opção. Acho perversa e desrespeitosa e até já vi versos órfãos chorarem. Como fazem os livros usados para enfeitar as estantes, de pseudo intelectuais e, atualmente, Youtubers de todas as correntes.
Outro ritual que não abro mão, é ler piadas. Logo cedo. Batizei de terapia do riso. Se experimentar vai abrir mão do psicanalista e até do Rivotril. Criei até um grupo no zap: TERAPIA DO RISO. Desde então, economizei uma fortuna com inseguros ou até mesmo loucos psicólogos e terapeutas.
Quer saber mais um ritual matinal muito prazeroso e indispensável? Acertou, claro, como não: sexo, sexo, sexo e mais sexo. De preferência todos os dias. Certamente, respeitando a disposição e disponibilidade da parceira.
Mais um ritual ou talvez só terapia, é cozinhar. Misturar e harmonizar gostos e sabores. E o que há de mais lindo e sublime nesse hobby, é encantar e surpreender meus amores, amigos e familiares, com pratos que despertem todos os seus sentidos e pecados.
Esse talvez não seja um ritual, apenas uma decisão. Nunca revelo a idade da minha fantasia corporal. Prefiro falar sobre a longevidade do meu espírito, que, como profetizou Raúl, nasceu a dez mil anos atrás, ou mais. E sempre jovem, nunca aceita a fantasia esteriotipada pela mediocridade de uma sociedade rotulante e mesquinha.
Recentemente fui surpreendido por uma vizinha, que perguntou minha idade e queria saber o segredo da minha "jovialidade". Como nunca pensei nisso, apenas disse: tenho por hábito comer tudo que quero, pensando no meu prazer, sem uma neurótica preocupação com a saúde. Como fazia minha vó, que partiu com quase cem anos.
Não sou bom samaritano, mas procuro sempre fazer o bem. Foco mais no meu ser, do que no ter. E quanto mais compartilho, mais recebo.
Assim fazendo, sempre tenho o mínimo necessário para uma existência digna e feliz.
Eu não preciso de muito. E mesmo sabendo que a mente mente e navega na ilusão do ter, sempre posso ser tudo, tudo que quiser, o meu indomável ser. Desde que esteja disposto a enfrentar as perversas armadilhas e tiranía do inexorável tempo: Meu algoz mais implacável.
Um dia, quem dera, eu necessite ter apenas o que possa carregar, principalmente na mente.
Também não desejo o mal de ninguém. Com exceção de alguns políticos negacionistas, sem empatia, polidez e muito preconceituosos. Contudo, respeito os que emergiram da árida miséria e provaram que é possível fazer a diferença.
Não gosto de malhar, porém me exército andando ou pedalando. Moro num desses bairros gourmetizados pela gentrificação. Tem vida própria e oferece todos os produtos e serviços necessários á nossa pasteurizada existência. Por isso, a décadas, abri mão do luxo egoísta de ter um carro. Mas alerto sobre os riscos de viver nesses bairros. Porque, se não tomar cuidado, ficas confinado neles e não desfrutas da cidade, em toda sua vibrante plenitude.
Sou um explorador na minha própria cidade. Visito cantos, recantos, praias esquecidas, guetos, becos, bares, vilas, vielas, quilombos e favelas.
Um bom ritual que gosto de praticar é o Nadismo. Não fazer nada é tudo. É muito bom para pensar, principalmente se a viagem for longa.